Por Fernanda Rettore
Na era das preocupações com o meio ambiente e luta pela equidade social, o termo “racismo ambiental” tem se popularizado nas discussões sociopolíticas. Apesar de parecer um conceito novo, a expressão foi criada na década de 1980, pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., um químico, revendo e liderança do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Chavis, também ganhador do Prêmio Nobel da Paz, levantou a questão do racismo ambiental em meio a protestos contra a instalação de depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, no estado da Carolina do Norte (EUA), onde a maioria da população era negra.
O racismo ambiental refere-se à discriminação de comunidades minoritárias — principalmente pessoas negras, indígenas e de baixa renda — que são forçadas a viver em áreas onde a poluição é alta, os recursos naturais são explorados de forma predatória e os riscos ambientais (deslizamentos, alagamentos e contaminações) são significativamente maiores. Enquanto isso, as áreas mais privilegiadas desfrutam de ambientes organizados, limpos e saudáveis, evidenciando uma disparidade no acesso à moradia e urbanização de qualidade, ligada a questões raciais e socioeconômicas.
As manifestações de racismo ambiental são variadas, mas um exemplo emblemático no Brasil, é a falta de acesso à água potável, ao saneamento e a condições de moradia digna nas regiões periféricas, onde historicamente a maioria da população é negra. Além disso, a qualidade de vida dessas comunidades são as mais impactadas pelas mudanças climáticas, visto que por falta de áreas verdes e estruturação urbana, são vítimas do calor intenso e das tempestades violentas, que culminam em enchentes e deslizamentos das residências insalubres.
Outro exemplo está na realidade das populações indígenas e quilombolas, que têm seu direito à terra ameaçado por garimpeiros e fazendeiros; ainda que as áreas estejam demarcadas, sofrem diversas violações em conflitos pela manutenção dos territórios. E, mesmo que os povos originários sejam os que mais contribuem para a preservação do meio ambiente por viverem em áreas de grande valor ecológico, eles têm pouca influência sobre as políticas que afetam suas comunidades e geralmente são excluídos do processo de tomada de decisão.
As consequências do racismo ambiental são devastadoras, pois afetam diretamente a saúde e o bem-estar dos grupos atingidos. A exposição prolongada à poluição do ar, da terra e da água pode levar ao desenvolvimento de doenças respiratórias, câncer e problemas neurológicos. Além disso, a degradação ambiental muitas vezes compromete os meios de subsistência tradicionais das comunidades, levando à pobreza e à perda de identidade cultural.
O racismo ambiental é uma faceta obscura da sociedade, que perpetua injustiças civis e compromete os esforços para proteger o meio ambiente. Reconhecer e enfrentar esse problema é fundamental para construir um futuro ecologicamente correto e inclusivo em todas as esferas. Isso requer políticas públicas que garantam o acesso equitativo a um ambiente organizado e saudável, bem como a participação ativa das comunidades afetadas nas decisões que impactem seus territórios. Além disso, é necessário promover a conscientização sobre o tema e defender a justiça ambiental como um componente necessário na luta pela sustentabilidade.
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