Por Fernanda Rettore
O Brasil é o líder global no consumo de agrotóxicos e como consequência dessa política agrícola, a biodiversidade é ameaçada pela interferência contínua na composição natural dos ecossistemas. A prática da agricultura química, intensifica a presença de substâncias contaminantes no solo, nos recursos hídricos e, consequentemente, nos alimentos e na saúde humana.
A situação atual revela uma realidade alarmante: mais de 3 mil agrotóxicos encontram-se registrados para uso no território nacional, sendo que quase metade deles é classificada como altamente prejudicial à saúde. Essa problemática foi acentuada pela aprovação do Projeto de Lei dos Agrotóxicos, que flexibiliza as regulamentações, introduzindo riscos aceitáveis para substâncias associadas a impactos graves. A exposição aos pesticidas está relacionada ao desenvolvimento de doenças crônicas e desregulação hormonal; entre 2010 e 2019, uma média de 5.687 casos de intoxicação por agrotóxicos foi registrada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O recente aumento no número de registros de agrotóxicos (505 foram aprovados em 2023) levanta questionamentos sobre a priorização do Ministério da Agricultura, relegando órgãos como o Ibama e a Anvisa a papéis secundários. O foco na superprodução do agro, somado à falta de regulamentação eficiente, coloca em risco a segurança alimentar e a saúde pública não apenas do Brasil, mas de todo o planeta.
O mercado brasileiro, historicamente voltado para a exportação de produtos alimentícios, tornou-se fortemente dependente desses insumos tóxicos para conseguir suprir a demanda internacional. O modelo atual, concebido para aumentar o rendimento da safra, revelou-se uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que atende às metas de produção, apresenta altíssimos níveis de contaminação em alimentos cotidianos, como arroz, soja, alho, batata e laranja. Ou seja, a exportação dos produtos brasileiros faz com que resíduos agrotóxicos cheguem a quase todos os lugares do mundo.
Diante desse cenário, é urgente repensar a estrutura agrícola vigente e explorar as possíveis soluções para reverter a cultura brasileira do agrotóxico. Em primeiro lugar, é importante realizar uma revisão abrangente na legislação relacionada aos produtos em questão, com o intuito de garantir maior rigor na análise e aprovação de novos registros, bem como avaliar daqueles já existentes, levando em consideração os avanços científicos e as descobertas sobre os impactos dessas substâncias. Em seguida, investir em pesquisas e tecnologias que visem reduzir a dependência de agrotóxicos, como o uso de organismos benéficos para controle de pragas, práticas agroecológicas e outros sistemas de cultivo baseados na bioatividade. Por fim, incentivar a transição para métodos de produção que respeitem os ciclos naturais e promovam a biodiversidade, para mitigar os impactos negativos da agricultura intensiva.
Além disso, a conscientização e a educação da população são elementos-chave na busca por uma mudança de paradigma. É necessário informar os agricultores sobre práticas mais sustentáveis, promover a adoção de tecnologias amigáveis ao meio ambiente e conscientizar os consumidores sobre a importância de escolhas alimentares que considerem a origem e os métodos de produção dos alimentos.
Em conclusão, a questão dos agrotóxicos no Brasil é um problema multifacetado que exige uma abordagem abrangente. A colaboração entre diferentes setores da sociedade — governos, empresas, organizações não governamentais e a comunidade científica —, para a criação de políticas públicas que incentivem a transição para práticas agrícolas saudáveis, aliada a investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias inovadoras, pode ser um passo na direção certa.
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