da Redação

Uma nova espécie de fungo observada em guaranazeiros e em clones de guaranazeiro (cultivares lançadas têm modificação genética), batizada de Pseudopestalotiopsis gilvanii, despertou preocupação dos pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Não é apenas o nome que assusta, pois ele pode provocar sintomas foliares que queimam a folha da planta, reduzindo a possibilidade de fotossíntese e prejudicando o seu desenvolvimento. A descoberta se deu por meio de pesquisa com observação de campo, que promoveu o isolamento do fungo para a sua análise no Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Amazônia Ocidental (AM), a fim de que fosse feita a sua caracterização morfológica e molecular. Os pesquisadores se mostraram aflitos diante da possibilidade de o fungo afetar as lavouras de açaí, dendê, banana e seringueira, cultivares tradicionais da agricultura familiar, principalmente nas regiões Norte e Nordeste

A Embrapa mantém estudos e pesquisas, dando continuidade ao monitoramento do novo patógeno, para que ele não se torne um problema efetivo à cultura do guaranazeiro e outras plantas de importância econômica. Embora o guaranazeiro seja originário da Amazônia, é o estado da Bahia, com 10.719 hectares, que se destaca como o maior produtor de guaraná do Brasil, segundo o levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que em ambos os estados é a agricultura familiar a grande responsável por esta produção, destacando-se pela qualidade do fruto cultivado. Suas sementes são bastante utilizadas pelas indústrias de bebidas, farmacêuticas e cosméticas, nacionais e internacionais, o que gera um atrativo econômico para que cada vez mais agricultores familiares despertem o interesse em ingressar nesta rica cadeia produtiva.

O guaranazeiro é originário da Amazônia, mas é o estado da Bahia, com 10.719 hectares, que se destaca como o maior produtor de guaraná do Brasil

Os estudos moleculares combinados com a caracterização morfológica, baseados na análise realizada pelo laboratório, indicaram que parte dos fungos isolados não apresentava correspondência com nada descrito por literaturas anteriores, indicando tratar-se de uma nova espécie de patógeno. Diante disso, a descoberta do Pseudopestalotiopsis gilvanii foi confirmada e descrita em um artigo publicado na revista Phytotaxa, especializada em taxonomia.

Após a confirmação da nova espécie, os pesquisadores iniciaram estudos para investigar o potencial de risco do patógeno sobre outras lavouras de importância econômica, inoculando o agente biológico em amostras de plantas de açaizeiro, dendezeiro, bananeira e seringueira, que são culturas estudadas pela Embrapa Amazônia Ocidental. Como resultado, os estudos revelaram que os sintomas causados pela nova espécie são parecidos com os da antracnose, revelando-se em forma de manchas de queima da folha, impactando negativamente na capacidade de fotossíntese das plantas.

Apesar de se mostrar um risco à produtividade dessas lavouras, os produtores podem continuar tranquilos, pois, até o momento, o novo patógeno ainda não é considerado uma ameaça, tendo sido observado com baixa frequência no campo. Novos estudos complementares a serem realizados pelos pesquisadores da Embrapa sobre o comportamento deste agente biológico estão sendo encaminhados para propiciar sua prevenção e estabelecer estratégias destinadas ao seu controle.

Por meio desses novos projetos, será possível ampliar o conhecimento desses microrganismos, analisando precisamente sua biologia molecular, genômica, transcriptômica e metabolômica, facilitando a busca de soluções para o enfrentamento dos efeitos de sua propagação sobre as lavouras.

Outra linha de pesquisa, também iniciada após a descoberta, destina-se a avaliação do potencial de bactérias e fungos a serem utilizados no controle biológico desses fungos patógenos. Estes estudos envolvem a quebra de resistência das plantas ao fungo, e estão sendo feitos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e coordenado por Caniato, da Ufam, em parceria com a Embrapa, para verificar os níveis de suscetibilidade apresentado por estas, focando no desenvolvimento de formas de biocontrole com uso de fitopatógenos.

Guaranazeiro, cultivado desde os povos originários

O guaraná já era utilizado pelos indígenas da floresta como um revigorante natural, e sua produção persiste no país como uma tradição importante, fazendo do Brasil o maior produtor comercial de guaraná do mundo, com destaque para a participação dos pequenos agricultores, maiores responsáveis pelo seu cultivo. No mês de maio deste ano, o produto chegou a ser comercializado a R$ 30 o quilo, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), evidenciando a valorização da sua cadeia produtiva ao longo dos anos.

Os guaranazeiros são plantas que se adaptam bem ao clima tropical quente e úmido, desenvolvendo-se bem em ambientes com temperaturas médias de 26ºC. A colheita do seu fruto, o guaraná, é feita de forma manual, retirando cacho por cacho, e, após serem colhidos, os grãos são fermentados, secos e torrados, para fabricação do pó do guaraná.

Seu cultivo deve ser feito em solo bem drenado, por meio de cova profunda, recomendando-se plantar a muda em dias nublados, sendo que a sua germinação tem início a partir de 70 dias após o semeio, podendo prolongar-se por até 150 dias. Por ser uma planta bem adaptada ao clima tropical, esta cultura exige regas frequentes e moderadas, de modo a evitar solos encharcados, e sua produção comercial estabiliza-se decorridos três anos do plantio, no caso dos clones, e nas plantas tradicionais, este prazo é de cinco anos.

No Brasil, a produção de guaraná ocorre em 7 estados, sendo a Bahia, Amazonas e Mato Grosso, responsáveis por 93,5% da produção nacional. A planta também é produzida em Rondônia, Pará, Acre e Santa Catarina. porém em menor escala.

Com informações da Embrapa.

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