Uma seca muito drástica tem deixado um cenário de morte e preocupação no Amazonas. Para os estudiosos do tema, trata-se de uma UME (Unusual Mortality Event) ou Evento de Mortalidade Incomum. O fenômeno do El Niño no oceano Pacífico associado às águas mais quentes no Atlântico têm causado sérios problemas ao ecossistema amazônico e às comunidades de ribeirinhos. Na última semana, as imagens de 110 botos mortos e agonizando no Lago Tefé, após o aumento da temperatura de suas águas, mostra a situação de calamidade no interior do maior estado brasileiro. Caso haja um atraso do início da temporada chuvosa que inicia agora em outubro, a situação pode se agravar tanto para a fauna, como também para populações ribeirinhas com o prolongamento da estiagem. O Lago de Tefé fica no município de mesmo nome, a 521 km de Manaus, a pouco mais de 8 km da confluência com o rio Solimões
O Amazonas é um dos estados mais afetados pela estiagem de 2023. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), esta é a segunda maior seca na região desde 2010. Já são 15 municípios em situação de emergência em razão da seca severa. Segundo levantamento realizado pela Defesa Civil do Estado, as cidades mais atingidas pela baixa das águas estão nas calhas dos rios Juruá e Solimões, nas regiões do Alto e Médio Solimões, exatamente a região onde as mortes dos botos foram registradas.
Dos animais encontrados mortos, 80% eram botos-rosa
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), deslocou técnicos para uma operação de resgate dos animais ainda encalhados. As carcaças, segundo pesquisadores, começaram a ser avistadas pelos ribeirinhos a partir do sábado (23/09). Em apenas um dia, pelo menos 70 animais mortos teriam sido avistados. Com a seca histórica no Lago Tefé, a grande redução em seu nível e a temperatura da água que chegou a 40°C, muitas espécies de peixes estão morrendo além dos botos.
O Lago de Tefé fica no município de mesmo nome, no coração da Amazônia a 521 km de Manaus, a pouco mais de 8 km da confluência com o rio Solimões
Outros 40 municípios estão em estado de alerta e cinco em atenção. De acordo com o coordenador do grupo de pesquisas em geociências e pesquisador titular do Instituto Mamirauá, Ayan Fleischman, as duas espécies encontradas mortas são o boto tucuxi (Sotalia fluviatilis) e o boto vermelho (Inia geoffrensis). As duas são consideradas ameaçadas de extinção e estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Seca do Rio Solimões criou bancos de areia na extensão onde passavam as águas do rio. Foto: Baltazar Ferreira, do G1
Amostras de sangue dos animais foram recolhidas e levadas de helicóptero para Rio de Janeiro e São Paulo para análises de emergência para descobrir “se alguma doença está causando as mortes, como toxoplasmose ou botulismo. Análises na água também serão feitas”. Há uma dificuldade de enviar as amostras, já que o acesso à cidade de Tefé é por meio do rio Tefé, onde não é possível passar com o barco devido a estiagem. O monitoramento avalia deslocar os animais que estão vivos para o Rio Solimões, para salvar suas vidas. Dos animais encontrados mortos, 80% eram botos-rosa.
Com informações da BBC News Brasil, portal G1 e portal O Eco.
Foto de capa: André Zumak do Instituto Mamirauá.