Nesta semana, o povo Pataxó da aldeia Mãe Barra Velha, de Porto Seguro, Bahia, organizou um momento de dança e samba em celebração ao Dia de Santos Reis, comemorado nesta última segunda-feira, dia 6 de janeiro. Esta data comemora a visita dos Três Reis Magos ao menino Jesus em Belém, conforme relato bíblico. Também conhecido como Epifania, é um momento de celebração da revelação de Jesus como o Salvador para todos os povos. A apresentação do povo Pataxó, que ocorreu em frente a Igreja Padroeira Nossa Senhora da Conceição, contou com máscaras e fantasias para representar a presença dos animais, como o esquilo caxinguelê, boi, tatu e urubu. Todos os anos, a aldeia Mãe Barra Velha realiza uma festa tradicional no Dia de Santos Reis com samba religioso, que revela a raiz indígena do samba brasileiro e um ritual passado de geração em geração
A Festa de Santos Reis é também conhecida por outros nomes, como Folia de Reis, Companhia de Reis ou Reisado, dependendo da região do Brasil. Ela celebra os três Reis Magos e sua reverência a Jesus como o Rei dos Reis. Os santos associados a essa data são São Baltazar, São Belchior e São Gaspar. Esta comemoração é uma tradição indígena do povo Pataxó, que faz uma apresentação artística com uma roda de samba religioso na aldeia Mãe Barra Velha, no extremo sul da Bahia. O grande diferencial da festa é a presença de crianças e adultos fantasiados de espíritos de animais e outras figuras típicas, conhecidas como caretas. As crianças, em particular, se vestem como espíritos animais, com destaque para os caxinguelês, pequenos esquilos.
As fantasias dos caxinguelês e de outros animais são feitas com fibras de coqueiro e papelões, criando armações em que as crianças ficam dentro, controlando o movimento das fantasias. A cada música, um animal entra na dança, como o tatu, a caipora e o urubu, com o objetivo de invocar e prestar reverência aos espíritos da natureza. Os povos originários acreditam que todas as forças naturais, como árvores, rios, animais e o vento, possuem espíritos que são fundamentais para o equilíbrio e a harmonia do mundo. Essa conexão espiritual reflete uma visão de respeito e interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente, onde os seres humanos devem viver em harmonia com a natureza e preservar seu equilíbrio.
Os adultos, por sua vez, costumam se fantasiar de boi, também chamado de jaguará, ou de vaca. A fantasia do jaguará é feita com ossos de vaca e um pau, similar a um cavalinho de pau, no qual o adulto se monta. As bocas do boi e da vaca são articuladas, abrindo e fechando, e o personagem interage com o público de forma lúdica, simulando mordidas. Além disso, existe o “careta” do vaqueiro, que tem a função de evitar que o boi se aproxime das pessoas durante a dança.
A cada ano, discute-se quais animais farão parte da festa. Uma figura típica é a careta da Burrinha, uma fantasia semelhante à de boi, porém menor e mais delicada. Uma das caretas mais tradicionais é a figura da Maria Gostosa, que é, na verdade, um homem vestido de mulher.
Confira a música tradicional Pataxó cantada na Festa de Santos Reis:
Caxinguelê, xôxô
Que bicho danado, xôxô
Do rabinho cabeludo
Dos olhinhos arregalados
Urubu não vai pro céu
Que não é rezador
Urubu catinga muito
No pé de Nosso Senhor
Mas por que urubu?
Ê, meu boi, êêaa
Ê, meu boi, êêaa
Cadê meu vaqueiro
Cadê meu vaqueiro
O laço pra laçar
O laço pra laçar
Meu boi já empacou
E eu preciso viajar
Ê, meu boi, êêaa
Ê, meu boi, êêaa
Além da Festa de Santos Reis, no dia 6 de janeiro, todo ano, entre dezembro e fevereiro, acontecem os sambas religiosos na aldeia Mãe Barra Velha, no município de Porto Seguro-BA. São quatro festas tradicionais: Nossa Senhora da Conceição, em 8 de dezembro; Santo Rei, em 6 de janeiro; São Sebastião, em 20 de janeiro; e São Braz, em 3 de fevereiro. As celebrações começam sempre no dia anterior a cada data, com os foliões iniciando a festa e continuando até o dia especial.
Os festejos contam com a participação dos sambadores e sambadeiras da região, que percorrem as casas dos moradores, especialmente as dos festeiros. Quando os festeiros recebem o ramo, eles assumem o compromisso de organizar a festa no ano seguinte. Assim, os sambadores passam pelas casas dos festeiros, e cada festeiro tem a responsabilidade de cumprir com seu compromisso, que envolve não apenas pegar o ramo, mas também realizar a festa. Isso inclui oferecer bebida aos sambadores, comprar fogos de artifício, contratar um cantor e o som, além de matar um boi para a comunidade e preparar comida para os sambadores.
Atualmente, a festa é conduzida pelo grupo cultural Marujos Pataxó, composto por sambadores e sambadeiras da aldeia, que se apresentam principalmente como marujos e marujas. Os homens tocam os instrumentos, com destaque para o pandeiro de acrílico, o tambor, o violão, o triângulo e o maracá. Já as mulheres se dedicam à dança e à contradança, formando rodas.
Grupo Musical Indigena de sambadores e sambadeiras Marujos Pataxó, de Porto Seguro, Bahia
De acordo com o Turymatã Pataxó, a comunidade indígena precisa do apoio da CONAFER para realizar essas quatro festas tradicionais na aldeia Mãe Barra Velha. Por isso, o povo Pataxó conta com a ajuda dos colaboradores da Secretaria Nacional Indígena com a organização e decoração do espaço para estes eventos, bem como a doação de camisas personalizadas para os sambadores, por exemplo. A Confederação segue apoiando a cultura indígena por meio de ações sociais e educativas para os povos originários de todo o país, além da divulgação das tradições nas aldeias no site da CONAFER e no canal do YouTube TV CONAFER.