De acordo com os dados divulgados pelo Monitor do Fogo, do MapBiomas, de janeiro a novembro de 2024, a área queimada no Brasil quase dobrou, em relação ao mesmo período de 2023, totalizando um território equivalente a todo o estado do Rio Grande do Sul. No total, 29,7 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo neste período, o que representa um aumento de 90% em comparação com o mesmo período de 2023 e a maior extensão dos últimos seis anos. A diferença em relação ao ano passado é de 14 milhões de hectares a mais, o que corresponde a uma área equivalente ao estado do Amapá. Dos 30 milhões de hectares queimados, quase 17 milhões estão localizados na Amazônia. O Cerrado foi o segundo bioma mais afetado, com 9,6 milhões de hectares queimados, seguido pelo Pantanal, com 1,9 milhão, e pela Mata Atlântica, com um milhão de hectares atingidos
O aumento das queimadas, batendo o recorde dos últimos seis anos, serve como um alerta urgente sobre a necessidade de adotar práticas mais sustentáveis e de conservação, para evitar consequências irreversíveis para o planeta. As queimadas ameaçam o equilíbrio ambiental, com impactos devastadores para a natureza e para a biodiversidade. As chamas destroem habitats naturais, colocando em risco inúmeras espécies de plantas e animais, muitas vezes levando-as à extinção. Além disso, a queima descontrolada contribui para a emissão de gases de efeito estufa, acelerando as mudanças climáticas e agravando o aquecimento global. A destruição de grandes áreas de floresta, como a Amazônia, diminui a capacidade de absorção de carbono, o que provoca um ciclo de poluição do ar. Esse problema também prejudica os povos indígenas, que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência.
Queimada no território Huni Kui, em Rio Branco (AC) – Foto: Denisa Starbova
Mas as queimadas não afetam apenas as comunidades originárias que vivem nessas áreas atingidas, uma vez que as mudanças no clima aumentam o risco de desastres naturais, como secas e enchentes. Isso também afeta a qualidade do ar e da água, que são vitais para todos os seres vivos. Com a destruição do meio ambiente, todas as vidas são colocadas em risco, por esse motivo, principalmente, que as queimadas precisam ser combatidas por todos.
Segundo o MapBiomas, o tipo de vegetação nativa que mais queimou foram as florestas, com 37% da área queimada em novembro de 2024, ou seja 662 mil hectares. Já a classe de uso da terra mais afetada foi a pastagem, com 38% da área total queimada na Amazônia em novembro de 2024, o equivalente a 680 mil hectares. Os dados ainda revelam que as condições climáticas, como a seca intensa e prolongada, favoreceram a propagação maior de incêndios. Mas a ação humana para iniciar o fogo foi o principal fator para explicar este aumento na área queimada.
De acordo com pesquisadores, de todos os incêndios que acontecem no Brasil, cerca de 1% é originado por causas naturais. Todos os outros 99% são de ação humana – Foto: Agência Brasil
A pesquisa do MapBiomas mostra que o Pará foi o estado com a maior área queimada nos primeiros 11 meses de 2024, totalizando 6,97 milhões de hectares. Isso representa 23% de toda a área destruída pelo fogo no Brasil e 41% da queimada na Amazônia. Em seguida, Mato Grosso e Tocantins ocuparam o segundo e terceiro lugares, com 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares queimados, respectivamente. Esses três estados juntos responderam por 56% da área total queimada no país durante o período de janeiro a novembro. Entre os municípios, São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) registraram as maiores áreas queimadas, com 1,47 milhão e 837 mil hectares, respectivamente.
Só no mês de novembro, dentro da Amazônia, quase metade (48%) da área queimada foi no Pará, com 870 mil hectares destruídos pelo fogo. Maranhão, com 477 mil hectares, e Mato Grosso, com 180 mil hectares, ficaram em segundo e terceiro lugares em termos de área queimada no mesmo mês. Já os três municípios que mais sofreram com queimadas no Brasil em novembro estão no Pará: Oriximiná, com 81 mil hectares, Moju, com 54 mil hectares, e Nova Esperança do Piriá, com 50 mil hectares. Em Santarém, o fogo destruiu 10,7 mil hectares em novembro, um aumento de mais de 277% em comparação com outubro, quando 2,8 mil hectares foram queimados na cidade.
Pará foi o estado com a maior área queimada nos primeiros 11 meses de 2024 – Foto: Foto: Victor Moriyama/Greenpeace
O estado do Pará, que liderou as queimadas no Brasil em novembro, já enfrenta sérias consequências ambientais e de saúde pública. Entre as áreas mais afetadas está Santarém, no oeste do estado, onde a qualidade do ar tem piorado rapidamente devido ao grande número de queimadas. Nesta região, os moradores estão lidando com uma atmosfera carregada de partículas tóxicas, que não só reduzem a visibilidade, mas também aumentam os riscos de doenças respiratórias
Os estudos mostram que as populações indígenas e tradicionais são as mais afetadas com problemas respiratórios decorrentes das queimadas, principalmente indígenas com menos de 5 anos e mais de 50 anos de idade, ou seja, os anciãos desses povos. Perder os mais velhos, os anciãos, é um grande prejuízo para a humanidade, pois perde-se o conhecimento das técnicas ambientais, das histórias e das tradições que ajudam a manter a cultura indígena viva.
Criança da Terra Indígena Yanomami em Roraima, recebe nebulização por conta dos efeitos da fumaça – Foto: Prevfogo/Ibama/MMA/ISA
Sabendo disso, em outubro deste ano, por exemplo, a Secretaria Nacional Indígena (SNI) organizou um mutirão para combater um incêndio na aldeia Imbiruçu, localizada em Carmésia, Minas Gerais. Com o desespero da população e sem um retorno rápido de atendimento do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o combate às chamas foi iniciado somente com a ajuda de uma equipe de brigadistas da CONAFER, que usaram cinco bombas, dois abafadores, pás, enxadas e foices para controlar as chamas que já ameaçavam chegar às casas mais próximas, colocando as vidas em risco.
A Secretaria Nacional Indígena da CONAFER promove, de forma permanente, a preservação ambiental e a proteção dos direitos indígenas, por meio de ações de educação, monitoramento de animais em risco de extinção e combate às queimadas florestais nas aldeias de todo o país. Além disso, a Confederação defende o marco ancestral contra a inconstitucionalidade do marco temporal, pois acredita que a proteção dos territórios indígenas é uma forma de preservar a biodiversidade contra a exploração, incluindo as queimadas causadas por humanos e o desmatamento.